sexta-feira, 7 de junho de 2013

Portugal, o país preferido

Eles estão por a toda a parte. Há imigrantes brasileiros por cada metro quadrado, alguns legais, outros nem tanto. Na Tapada das Mercês, bem no centro da Linha de Sintra, existem lojas fundadas por estes imigrantes porta sim, porta não. Uma destas lojas pertence a Grace Santos, proprietária do Café Mirante à cerca de um ano. Aqui param vários brasileiros e portugueses, que vêm á procura das especialidades do Brasil, o único tipo de alimentos que a proprietária comercializa no estabelecimento. Grace, residente no nosso país à doze anos, tem um curso de cabeleireira, mas a necessidade falou mais alto e ela viu-se obrigada a trabalhar em qualquer coisa. ‘O imigrante não pode pensar em trabalhar naquilo em que estudou, ele quando vem tem que pegar em qualquer coisa.’, explica a mesma, com o característico sotaque. 
Já Ivone Peiptz, nascida no país carioca mas crescida nos Estados Unidos da América revela que não tinha muita vontade de vir para Portugal, decisão que fora tomada devido ao marido. Gosta de Portugal, ao contrário do sobrinho, de 21 anos, que regressou ao Brasil recentemente. Com um curso para técnico oficial de contas, Ivone conta que o sobrinho ingressou no nosso país sobretudo para estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Não conseguiu, devido à dificuldade actual em arranjar emprego. ‘Além disso, ele acha que a vida no Brasil é muito mais divertida, é mais a cara dele. As pessoas são muito mais soltas no Brasil. E também ele lá pode estudar e trabalhar numa firma com contrato, não é como aqui.’, explica. E tal como o sobrinho de Ivone, Mara Vieira também sentiu grandes dificuldades em arranjar emprego. Residente em Portugal há quatro anos, a cabeleireira conta que esperava melhor do nosso país. ‘Vim para viver melhor, uma vez que a economia portuguesa é muito mais forte, mas estou um pouco desiludida. Esperava um país melhor.’, revela.

Mas nem todos os imigrantes saem do Brasil devido a dificuldades financeiras. Que o diga Anne Oliveira, filha de uma portuguesa. Foi um pequeno sequestro que ditou o destino. Em 2004, a mãe de Anne fora sequestrada em pleno Rio de Janeiro, motivo pelo qual levou a portuguesa a desenvolver Síndrome de Pânico, uma doença que faz com a pessoa tenha vários ataques de pânico por dia. A perturbação fez com que a mãe de Anne sentisse necessidade em passar uns dias em Portugal, com a família. A segurança que o nosso país oferece encantou-a de tal forma que, de repente, a mãe de Anne propôs uma mudança radical para Lisboa. Porém, os primeiros meses foram um pouco difíceis para Anne e a sua família. ‘Não tinha um único amigo por cá e se me virassem de cabeça para baixo não caía uma moeda de cinquenta cêntimos. Estava habituada a ter mesada e todo fim-de-semana correr pro shopping para comprar roupas e de repente tinha que comprar casacos de inverno e botas na feira.’, relembra Anne, que tinha uma vida abastada antes de vir para Portugal. Vida esta que a família de Anne recuperou. Em 2011, a mãe de Anne foi promovida, o que permitiu o regresso à vida confortável de outrora.

Língua, clima, segurança, poder de compra são os principais factores de escolha por Portugal, de acordo com os entrevistados. ‘Muitos brasileiros fazem a conversão entre euro e o real (a moeda do Brasil) e acham que Portugal é uma mina de ouro e que voltarão para o Brasil milionários depois de passarem uma temporada por cá. O que é, claramente, um mito.’, conta Anne, que em breve regressará ao país de origem com o namorado, que recebeu uma proposta de trabalho para o país carioca. Anne é a única entrevistada que mostra entusiasmo em regressar ao Brasil. Ivone até pondera sair de Portugal, mas só se for para voltar à América do Norte. Já Grace e Mara não poem essa hipótese em questão. ‘Se o café fechar, eu pego em outra coisa. Voltar eu não volto. Além disso, o meu filho é praticamente português, está integrado, não tem ligação nenhuma com o Brasil, não ia querer voltar. E depois tem o que está aqui na minha barriga, esse vai ser português’, conta Grace, grávida do segundo filho. E são os filhos que também constituem um entrave ao regresso de Mara. ‘O meu filho adaptou-se bem, ele nem quer voltar. E eu também só voltava se ficasse desempregada.’, revela Mara, que teve dificuldades em se adaptar ao nosso país, ao contrário de Anne que se adaptou muito bem a Portugal, apesar de sentir algumas discrepâncias entre os dois povos.

‘E a crise’? Ivone Peiptz acredita que ela não irá acabar, mas Anne Oliveira não partilha dessa opinião, achando que a conjuntura terá um fim, apesar de ainda estar longe. ‘Acho que ainda vai demorar uns bons anos para tudo voltar aos eixos, mas sim, acredito que conseguiremos sair do buraco’, conta a estudante de 25 anos.



Rute Fidalgo

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