Eles estão por a toda a parte. Há imigrantes
brasileiros por cada metro quadrado, alguns legais, outros nem tanto. Na Tapada
das Mercês, bem no centro da Linha de Sintra, existem lojas fundadas por estes
imigrantes porta sim, porta não. Uma destas lojas pertence a Grace Santos,
proprietária do Café Mirante à cerca de um ano. Aqui param vários brasileiros e
portugueses, que vêm á procura das especialidades do Brasil, o único tipo de
alimentos que a proprietária comercializa no estabelecimento. Grace, residente no nosso
país à doze anos, tem um curso de cabeleireira, mas a necessidade falou mais
alto e ela viu-se obrigada a trabalhar em qualquer coisa. ‘O imigrante não pode pensar em trabalhar naquilo em que estudou, ele
quando vem tem que pegar em qualquer coisa.’, explica a mesma, com o
característico sotaque.
Já Ivone Peiptz, nascida no país carioca mas crescida
nos Estados Unidos da América revela que não tinha muita
vontade de vir para Portugal, decisão que fora tomada devido ao marido. Gosta
de Portugal, ao contrário do sobrinho, de 21 anos, que regressou ao Brasil
recentemente. Com um curso para técnico oficial de contas, Ivone conta que o
sobrinho ingressou no nosso país sobretudo para estudar e trabalhar ao mesmo
tempo. Não conseguiu, devido à dificuldade actual em arranjar emprego. ‘Além disso, ele acha que a vida no Brasil é
muito mais divertida, é mais a cara dele. As pessoas são muito mais soltas no
Brasil. E também ele lá pode estudar e trabalhar numa firma com contrato, não é
como aqui.’, explica. E tal como o sobrinho de Ivone, Mara Vieira também
sentiu grandes dificuldades em arranjar emprego. Residente em Portugal há
quatro anos, a cabeleireira conta que esperava melhor do nosso país. ‘Vim para viver melhor, uma vez que a
economia portuguesa é muito mais forte, mas estou um pouco desiludida. Esperava
um país melhor.’, revela.
Mas nem todos os imigrantes saem do Brasil devido
a dificuldades financeiras. Que o diga Anne Oliveira, filha de uma portuguesa. Foi
um pequeno sequestro que ditou o destino. Em 2004, a mãe de Anne fora
sequestrada em pleno Rio de Janeiro, motivo pelo qual levou a portuguesa a
desenvolver Síndrome de Pânico, uma doença que faz com a pessoa tenha vários
ataques de pânico por dia. A perturbação fez com que a mãe de Anne sentisse
necessidade em passar uns dias em Portugal, com a família. A segurança que o
nosso país oferece encantou-a de tal forma que, de repente, a mãe de Anne
propôs uma mudança radical para Lisboa. Porém, os primeiros meses foram um
pouco difíceis para Anne e a sua família. ‘Não
tinha um único amigo por cá e se me virassem de cabeça para baixo não caía uma
moeda de cinquenta cêntimos. Estava habituada a ter mesada e todo fim-de-semana
correr pro shopping para comprar roupas e de repente tinha que comprar casacos
de inverno e botas na feira.’, relembra Anne, que tinha uma vida abastada
antes de vir para Portugal. Vida esta que a família de Anne recuperou. Em 2011,
a mãe de Anne foi promovida, o que permitiu o regresso à vida confortável de
outrora.
Língua, clima, segurança, poder de compra são os
principais factores de escolha por Portugal, de acordo com os entrevistados. ‘Muitos brasileiros fazem a conversão entre
euro e o real (a moeda do Brasil) e acham que Portugal é uma mina de ouro e que
voltarão para o Brasil milionários depois de passarem uma temporada por cá. O
que é, claramente, um mito.’, conta Anne, que em breve regressará ao país
de origem com o namorado, que recebeu uma proposta de trabalho para o país carioca.
Anne é a única entrevistada que mostra entusiasmo em regressar ao Brasil. Ivone
até pondera sair de Portugal, mas só se for para voltar à América do Norte. Já
Grace e Mara não poem essa hipótese em questão. ‘Se o café fechar, eu pego em outra coisa. Voltar eu não volto. Além
disso, o meu filho é praticamente português, está integrado, não tem ligação
nenhuma com o Brasil, não ia querer voltar. E depois tem o que está aqui na
minha barriga, esse vai ser português’, conta Grace, grávida do segundo filho.
E são os filhos que também constituem um entrave ao regresso de Mara. ‘O meu filho adaptou-se bem, ele nem quer
voltar. E eu também só voltava se ficasse desempregada.’, revela Mara, que
teve dificuldades em se adaptar ao nosso país, ao contrário de Anne que se
adaptou muito bem a Portugal, apesar de sentir algumas discrepâncias entre os
dois povos.
‘E a crise’? Ivone Peiptz acredita que ela não irá
acabar, mas Anne Oliveira não partilha dessa opinião, achando que a conjuntura
terá um fim, apesar de ainda estar longe. ‘Acho
que ainda vai demorar uns bons anos para tudo voltar aos eixos, mas sim,
acredito que conseguiremos sair do buraco’, conta a estudante de 25 anos.
Rute
Fidalgo
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