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terça-feira, 7 de maio de 2013

Guiné - Opositores Políticos em audiências


A União para a Mudança (UM) responsabilizou os seus opositores políticos, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e o Partido da Renovação Social (PRS), pelo impasse político que os Guineenses atravessam.
            A UM acredita que esta situação pode conduzir o país a uma nova derrapagem com consequências negativas, e à continuação da falta de ajuda por parte dos países internacionais e os seus parceiros. A União para a Mudança apelou, assim, ao Presidente de transição, Serifo Nhamadjo, que assumisse as suas responsabilidades, agindo em conformidade com as propostas apresentadas, de forma a tirar o país da presente situação.
Assim, Nhamadjo, iniciou ontem, dia 6 de maio, audiências com os três principais partidos no Parlamento para discutirem a situação politica vivida no país e para analisar a possível formação de um novo Governo.
À saída das audiências, realizadas em separado, os três partidos em declarações, afirmaram que discutiram com o Presidente “quais os passos necessários para tirar o país da situação em que se encontra” diz Victor Pereira, porta-voz do PRS. O líder do PRID (Partido Republicano da Independência e Desenvolvimento), Afonso Té, acrescentou ainda que passou em revista “os últimos 12 meses” em que o país é gerido pelas autoridades de transição, para conseguirem chegar a alguma conclusão.
Hoje, dia 7 de maio, Serifo Nhamadjo vai prosseguir com as consultas, recebendo os partidos políticos sem assento parlamentar.

Rita Afonso

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Guiné - 1 ano após o golpe de Estado - Revista da semana


Um ano após o golpe de Estado, a Guiné regrediu em todos os indicadores do país, dizem os analistas à agência Lusa. “É sempre mau uma rotura, embora por vezes, seja vista como a última saída". No caso da Guiné, o País não voltou a encontrar o caminho. “Não deixou de haver mortes depois do golpe e continuamos com restrições à liberdade, como a de informação, de expressão, de manifestação e até mesmo de circulação”, acusa Fodé Mané, director da Faculdade de Direito de Bissau.
O País continua, como diz Aly Silva, jornalista guineense, "mergulhado na anarquia". A cidade está "assustada e triste" diz, referindo-se aos cidadãos Guineenses.
Aqui ficam as principais noticias que ocorreram esta semana no País.

Ex-PM da Guiné Bissau sai da corrida à liderança do PAIGC
 Carlos Gomes Júnior, ex-Primeiro Ministro da Guiné, afirmou segunda-feira, que retirou a sua candidatura à liderança do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde mas assume-se sempre, como um candidato natural às próximas presidenciais.
 O ex-primeiro ministro diz que a sua decisão foi ponderada nos superiores interesses do partido e, principalmente, para demonstrar que não quer ser um obstáculo ao partido e ao desenvolvimento da Guiné Bissau. Era o candidato favorito na segunda volta das eleições e afirma-se disponível para prestar “todo o apoio necessário à futura direção” e para “seguir as orientações” do PAIGC.


José Ramos Horta- “Estado guineense tende a desaparecer”
 O representante do secretário-geral da ONU defende que a Guiné Bissau “enfrenta uma ameaça existencial”, e apoia que as elites políticas e militares deviam aproveitar o primeiro aniversário do golpe de Estado, para fazerem um exame de consciência. 
 “A verdade é que se aprofunda a crise social e económica e o isolamento internacional da Guiné Bissau”, disse. Assim, o governo tem que tomar medidas, pois em contrapartida, é difícil sobreviver aos desafios nacionais, como a extrema pobreza, e também aos internacionais,


A detenção de Bubo Na Tchuto
 Para o Presidente do Conselho Nacional da Juventude, Dito Max, a detenção do contra-almirante Bubo Na Tchuto (a semana passada), por narcotráfico, é lamentável: "...muito grave e preocupante". Dito Max, diz ser "incompreensível o nível de envolvimento" da Guiné-Bissau no narcotráfico.
 Para o Presidente do CNJGB, se os que estão envolvidos no tráfico de droga se mantiverem, "ninguém quererá investir na Guiné."
 A situação na Guiné–Bissau vai ser analisada pelo representante especial do secretário-geral da ONU com as autoridades de Cabo Verde. José Ramos-Horta estará na cidade da Praia, Cabo-Verde, até ao final da semana, para, juntamente com as autoridades de Cabo-Verde analisarem a situação na Guiné-Bissau.

 Presidente envolvido no tráfico?
Em declarações à imprensa, o Procurador-Geral da República guineense desmente qualquer envolvimento do Presidente de Transição, Serifo Nhamandjo e do Primeiro-ministro Rui de Barros, no tráfico de droga e de armas. A seu ver, as alegações não passam de uma “campanha negra” feita pela "má vizinhança".
 Mas os documentos judiciais, na posse da agência Reuteurs, comprovam o contrário: o presidente pode ter cooperado no tráfico. A Presidência diz que não voltará a falar do assunto, sejam quais forem "as provocações e as atoardas que os adversários venham a intentar".

Líder do Partido Social-Democrata marca prazo máximo para eleições no país
O líder do PSD propôs, quinta-feira, o primeiro trimestre de 2014 como prazo máximo para a realização de eleições gerais no país. António Baldé, diz que não podem mais esconder-se atrás da democracia e não querer realizar eleições. Diz que para trabalharem, viverem e funcionarem bem, criando as condições mínimas, têm de ter um relacionamento com a comunidade internacional.“Eu penso que, no mais tardar, até fevereiro, março do próximo ano, nós temos que fazer as eleições”, frisou.

Rita Afonso


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Revista da semana

 


Guiné - Bubo Na Tchuto detido por EUA

Bubo Na Tchuto, ex-chefe da armada guineense, foi ontem detido em Cabo-verde por brigada Americana de combate ao narcotráfico. Juntamente com outros quatro cidadãos guineenses, foi levado para os Estados Unidos. Bubo era procurado por envolvimento em tráfico internacional de drogas, grande parte cocaína vinda da América do Sul.



Rumores deixam Guiné-Bissau sob tensão

A noite de 3 de Abril foi passada de forma inquieta pelos guineenses, devido aos rumores sobre militares que se teriam apoderado de algumas instituições públicas.
O Chefe de Estado-maior General das Forças Armadas, António Indjai, veio desmentir que os militares tenham realizado alguma manobra extraordinária e acrescenta que as informações visam somente aprofundar a instabilidade e desacreditar o país.
António Indjai afirmou que as fontes já foram identificadas e serão responsabilizadas. 
O Governo de Transição da Guiné-Bissau pediu esta quinta-feira ao Ministério Público que detenha os autores dos “boatos".

Angola - PR inaugura Bandeira Monumento



José Eduardo dos Santos, Presidente da República, inaugurou ontem em frente ao Museu Nacional de Historia Militar, ex-fortaleza de S. Miguel, uma Bandeira Monumento que homenageia os heróis da pátria e todos os que se empenharam na conquista da Independência Nacional, da Paz e do desenvolvimento de Angola.
 O acontecimento deu-se por volta das 11 horas e 11 minutos representando o dia e o mês da proclamação da Independência Nacional (1975), a 11 de Novembro.

Moçambique - Confrontos em Muxungue 

Na sequência da notícia publicada no dia de ontem pela LusONDA, damos conta que,
segundo declarações do governo distrital de Chibabava à RDP áfrica, 5 mortos resultaram destes confrontos, quatro polícias e um membro da Renamo. As ameaças por parte dos ex-combatentes continuam e a população encontra-se aterrorizada. Comércio e escolas em Muxungue encontram-se encerrados.



S. Tomé e Princípe - Eleições Adiadas?

O presidente da Comissão Eleitoral Nacional (CEN) de São Tomé e Príncipe, Victor Correia, considerou as condições técnicas, criadas para a realização das eleições autárquicas e regionais, insuficientes para garantir a “disputa” na data prevista. 
As autárquicas na ilha de São Tomé e regionais na ilha do Príncipe, deveriam ser realizadas no próximo mês de Junho, mas os problemas com a base de dados da Comissão Eleitoral estão a comprometer o ato de eleição.

  "Não vamos poder fazer essas eleições na data prevista, porque nós já perdemos os três primeiros meses concedidos pela lei para a atualização 
do recenseamento com a correção dessas anomalias
", disse Victor Correia.


Cláudia Martins

segunda-feira, 1 de abril de 2013

"Incitamento à guerra étnica?!" Eu?


Esta é a segunda parte da entrevista ao jornalista Guineense António Aly Silva . Desta vez Aly conta-nos porque se candidatou a PR, como o seu blogue se tornou num dos mais fortes em África, como foi detido a 13 de Abril de 2012, o trauma provocado pelo golpe de estado, e as soluções propostas para o seu País voltar à estabilidade e encontrar um caminho no contexto regional e internacional .

No dia 13 de Abril de 2012, no golpe de estado, foi detido pelos militares pouco tempo depois de ter deixado um ‘Apelo dramático à comunidade internacional’ no seu blogue. O que aconteceu?
  O Golpe já eu previa. Aliás, uma semana antes, perguntava se íamos mesmo ter segunda volta nas eleições, tudo indicava que não… e aconteceu.
   Eu, felizmente, estava lá perto, na esquina da embaixada do Brasil, quando um amigo meu vem de mota e diz-me que estavam a chegar militares à casa do primeiro-ministro. Eu na minha ingenuidade ainda lhe disse que se calhar iriam protegê-lo por causa de informações do outro candidato, mas pelo sim pelo não fui com ele. Meti o iPad no braço, comecei a filmar, passei e por acaso vi eles a chegarem. Quando nos  voltámos e chegámos à esquina, ouvimos o primeiro rebentamento. A partir daí fomos corridos de lá para fora, nem o meu carro deixaram tirar. E começou assim, tão depressa quanto acabou, não durou muito. Os alvos estavam definidos, estavam cercados, foi só chegar e levá-los.
 Nessa noite fui detido. Morava na Rua de Angola perto do primeiro-ministro. Estava a ir para casa, ia trabalhar no blogue, atualizá-lo, quando oiço alguém a engatilhar a arma. Quando olho, vejo um militar sozinho, com uma arma apontada, que me perguntou o que eu levava no braço, ao qual eu respondi ser um computador de trabalho. Ele disse que eu teria de ir com ele, e assim foi. Iam levar-me precisamente para a casa do primeiro-ministro porque era lá o quartel-general. Entretanto andei 100 metros e dei-lhe uma nota de 10 mil francos . O militar nem olhou para mim, pegou na nota, foi-se embora e disse-me para eu ir para casa. Eu fui para o hospital, fiquei lá à espera para ver se havia feridos ou mortos.   Entretanto nessa noite, mesmo no hospital, estava dentro de uma ambulância velha, escondido, e escrevi o tal ‘Apelo dramático à comunidade internacional’ , de manhã, por volta das 10 horas, atualizei o último post, dei uma entrevista a uma rádio de cabo verde e fui para casa. Quando voltei a sair de casa e entrei no carro, vi, a 200 metros, um carro, mas como já havia muita movimentação de tropas a descer e a subir pensei que fosse a mesma coisa. Quando entro no carro em vez de subir a rua faço inversão de marcha, mas quando começo a andar já estavam em cima de mim. Tentei ir por uma rua que estava completamente esburacada, mas apontaram-me armas, levei com uma arma na cabeça e levaram-me.

E  quanto tempo esteve detido?
 Desta última vez fui detido às 10h30 da manhã e fui liberto entre as 18h30-19h da tarde. 
Houve muita pressão das embaixadas. Aliás, o motivo pelo qual me meteram na cela foi porque toda a rádio falava no meu nome e também a RTP África, então eles disseram mesmo: “metam lá esse gajo na cela, não o queremos aqui “ e foi assim. Acho que eles estavam mais apavorados do que eu (risos).

Já tinha sido detido anteriormente?
 Sim, já! Tenho 90 pontos de 1992, na época do Nino Vieira em que também fui preso e espancando. É o hábito. Já estou vacinado.

E durante esse tempo foi mal tratado?
 Não. Fui tratado com respeito desde que lá cheguei. Bem, ouvi as “bocas” próprias dessas ocasiões, mas nada mais.

Saiu da Guiné-Bissau no dia 26. O que aconteceu?
 Eu estava em casa, no primeiro andar. Entretanto a minha irmã subiu e disse-me que havia pessoas que me queriam falar (o que era normal). Eu desci, reconheci uma delas e vi que era militar, não estavam fardados e estavam num carro descaracterizado. Perguntaram-me se eu sabia o que estava no banco de trás. Eu reconheci ser uma bazuca RPg 7 ,uma arma para disparar contra tanques, não contra pessoas. Disseram-me para ter cuidado e foram embora. Assim que foram embora, peguei em três camisas, umas calças, coloquei na mochila e saí de casa. Comprei o bilhete de avião, foi arriscado, mas comprei. Não vos vou contar como consegui entrar no avião mas consegui e saí às 23h30 da noite.

E para onde foi?
 Saí de Bissau para Dakar, onde me instalei. Uma semana depois, um amigo meu, que tinha viajado também para Dakar, avisou-me para ter cuidado pois o Diretor dos serviços de informação teria apanhado o mesmo vôo e na reunião do Conselho de defesa havia um Procurador-Geral a fazer um mandado internacional de captura por crime de “incitamento à guerra étnica”. Fiquei então em Dakar mais três dias, depois apanhei novamente o avião e cheguei a Portugal. Cheguei de manhã e soube que estiveram a falar com o governo Senegalês. Perguntaram por mim e quando foram informados que eu tinha saído nessa madrugada, alguém disse “Graças a Deus”, ou seja, estava tudo planeado, talvez, para me sequestrarem.

Sente-se mais seguro aqui em Portugal?
 Nem por isso, mas estou livre. Aliás vou voltar à Guiné daqui a um mês se Deus quiser!

Como é que o blogue ditadura do consenso se tornou num dos mais fortes em África, sendo a Guiné Bissau um dos países mais pequenos do continente?
 O Blogue foi criado em Portugal, após ter saído do jornal “O Independente”. Quando saí fui para a Visão e depois fundei um jornal, e foi aí que criei o blogue, em 2004.
 O ditadura do consenso tem 6 milhões e meio de visitas e neste momento que estamos a falar deve ter mais um bocadinho. Mas… não sei explicar, não estava à espera. Fiz o Blogue por “carolice”. Era brincadeira minha, quando não estava no jornal estava a escrever no blogue e agora o problema é pará-lo (risos).

Pensa parar o blogue?
 Neste momento estou a trabalhar no livro sobre o blogue, espero em Maio já estar terminado. Mas um dia o blogue há-de terminar. Desgasta-me muito e só me dá problemas. O que eu não queria nunca era sair da Guiné, mas teve de ser. Mas se for o caso de voltar para a Guiné e tiver de deixar o blogue, deixo.

Mas o Blogue não é a melhor forma de expor os problemas do País e dos Guineenses?
 Sim, é mais prático de chegar às pessoas. Mas não me sinto limitado porque mesmo em Bissau uso o telefone, iPad, tenho internet 24 horas e o blogue não pára. Há dias de crise na Guiné que o blogue chega a 50 mil. O blogue torna-se quase uma televisão em direto. As notícias são tão intensas e o feedback que tenho é impressionante.

Como é que um Jornalista se candidata a PR?
 Eu fui para candidato a pré-candidato e foi mesmo só por brincadeira. Mas não posso dizer que amanhã não possa entrar na política. Aliás, eu comecei na política, não foi por causa do jornalismo que eu fui preso em 1992, foi por causa da política.

Mas se envergar pelo caminho politico como é possível exercer um jornalismo descomprometido?
 O meu blogue é do cidadão e do jornalista. Aqui em Portugal todos os políticos têm um blogue e o que não dizem em público dizem no facebook por exemplo. Para já não tenho ambições políticas, mas mais tarde quem sabe.

Que soluções propõe para Guiné Bissau?
 A única maneira da Guiné fazer parte do resto do mundo, a meu ver, é através de uma força de estabilização e o país tornar-se num protetorado tal como Timor. A Guiné Bissau será viável quando isso for feito, caso contrário nunca será, pois qualquer pessoa que tenha uma arma na Guiné faz um Golpe de Estado, e um Golpe de estado não é só remover as peças, é gente que morre de ataque cardíaco,gente que morre por tensão alta, famílias assustadas a fugir, tudo isto são traumas com que as pessoas ficam. 

Cláudia Martins e Cláudia J. Matos 

quarta-feira, 27 de março de 2013

«A Guiné está completamente de joelhos»


António Aly Silva, é a voz que nos dá a conhecer a realidade da Guiné-BissauDepois de ser detido sem acusação em Bissau, o jornalista António Aly Silva decidiu refugiar-se em Portugal. É em Lisboa que continua a alimentar o maior blogue do continente africano, Ditadura do Consenso, que conta mais de 6,5 milhões de visitas. Na primeira parte da entrevista exclusiva ao LusONDA, Aly explica como os políticos se demitiram da gestão do pequeno país africano, como a Guiné se tornou num narcoestado e como o resto do mundo decidiu ignorar o «problema guineense» e assobiar para o lado. A segunda parte desta entrevista será publicada na próxima semana.

Qual a situação atual da Guiné e quem domina a política de hoje?
 A Guiné Bissau, a 12 de abril de 2012, teve um golpe de estado em que o governo eleito acabou por ser derrubado, tendo sido adiada a segunda volta das eleições. Até hoje temos um governo imposto por 4 países da nossa sub-região que é a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), temos um presidente igualmente imposto e um país bloqueado política e económicamente.   A Guiné foi expulsa da União Africana, não é reconhecida por nenhum País da União Europeia, não é reconhecida pelas Nações Unidas, e tudo isto a somar à fragilidade do próprio Estado. É traumatizante até porque do povo ninguém fala. As pessoas falam em meia dúzia de políticos que querem poder e ninguém se lembra que quem vota nos políticos é o povo de quem, infelizmente, ninguém quer saber.


São várias as notícias que acusam a Guiné Bissau de se tornar num narco-estado. Até mesmo a ONU apelidou assim o país. Que soluções propõe?
 O problema da droga é muito complicado. A ONU estima que cerca de 900 kg de cocaína chegam por dia a Guiné-Bissau. A Guiné consegue exportar cocaína 40 vezes superior ao seu PIB num ano e isto tem as suas consequências. Não para nós porque não consumimos e nem temos sequer dinheiro para comprá-lo, mas a Guiné é tipo um “trampolim”, onde todos chegam, metem e saltam.
 Mas o mais extraordinário é que toda a gente fala da droga mas ninguém aparece para dizer ‘vocês não têm meios mas nós podemos ajudar’ .
 A Guiné é um país pequeno e está completamente de joelhos.

Que papel poderia potencialmente ocupar a Guiné, num contexto mundial ou regional?
 Assim, de repente, nenhum. Quando um país não é reconhecido por exemplo pelos maior parceiro bilateral, que é a União Europeia, é complicado. Quem reconhece a Guiné são apenas quatros países da CEDEAO: o Senegal, o Burkina Faso, a Nigéria e a Costa do Marfim. De resto, mais ninguém. E a CEDEAO é um conjunto de 16 estados, mas só 4 é que impõem...

Neste momento quem é o inimigo? Políticos, militares ou o narcotráfico?
 Isto do narcotráfico ser o inimigo até certo ponto pode ser verdade. Eles têm dinheiro, e num país sem ordem, sem leis, o narcotráfico quer é países assim. Quando se fala em narcotráfico fala-se também em terrorismo. Procuram países instáveis em que as pessoas são facilmente subornadas onde a corrupção é endémica, onde o analfabetismo é cronico e é isto que me preocupa. A Guiné-Bissau ser deixada assim. Começamos a ouvir todo o tipo de discursos que são disparates autênticos. Antes de Junho ou Julho irá haver um problema outra vez. E ai vão dizer o quê? A Guiné-Bissau está num estado que considero anárquico. Um país onde o Estado existe apenas em Bissau e onde há alcatrão. E quando tens um país como o nosso, que tem um território marítimo maior que o continental, um país que tem 90 ilhas e quando não há praticamente Estado dentro da capital... podemos esperar o pior. Temos ilhas desabitadas que são autênticos armazéns de cocaína.
É triste porque a Guiné Bissau é um país membro das Nações Unidas, da União Africana, da CEDEAO mas não faz parte da agenda Internacional. Está esquecida.

Cláudia Martins e Cláudia J. Matos

Ajuda alimentar não chega a Bissau

ONU é forçada a adiar ajuda alimentar à Guiné-Bissau por falta de fundos.
 Segundo a porta-voz do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU em Genebra, Elisabeth Byrs, “A assistência estava agendada para começar a 1 de Março de 2013, mas as operações estão paralisadas” pois, até agora, não recebeu nenhuma doação.

Para voltar a fornecer ajuda alimentar a 278.000 guineenses, “incluindo jovens mães e crianças em risco de desnutrição”, o PAM “necessita urgentemente de 7,1 milhões de dólares” (cerca de 5,49 milhões de euros), alertou Elisabeth Byrs.
“Não podemos comprar comida sem dinheiro”, lamentou.

Cláudia Matos





segunda-feira, 25 de março de 2013

CPLP pela primeira vez em Bissau desde golpe militar


O embaixador Murade Murargy, chegou esta manhã a Guiné Bissau para uma visita, a convite da União Africana.
O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, disse em declarações à RDP, que pretende conhecer melhor a realidade do País e que esta visita pode ser vista como uma missão de amizade e paz, com o objetivo de ajudar o país a restabelecer a paz e estabilidade.
Pela primeira vez na Guiné, desde o golpe de estado em abril do ano passado, o Secretário Executivo garante que a CPLP “nunca esteve afastada ou mesmo ausente ,em termos morais, da Guiné-Bissau” , e que se interessa pelo país. Murade Murargy acredita na criação de um governo inclusivo em que todos podem participar, e assume esta, como a melhor solução, capaz de conduzir o processo de transição até às eleições autárquicas.

Rita Afonso

sábado, 16 de março de 2013

Anjos Coloniais


 Violência, sangue, tristeza, patriotismo, luta, morte! São alguns conceitos que constituem um cenário de Guerra. A Guerra do Ultramar não foge à regra. Hoje em dia residem apenas memórias, mazelas, e muitos agradecimentos. Agradecimentos por soldados e suas famílias que permanecem vivos para contarem as suas histórias. Muitos são os votos de gratidão para com as imortais “Seis Marias”.Seis mulheres Portuguesas que caíam do céu com missões de salvarem e resgatarem feridos ou mortos em combate. Hoje, vivem com pontos a favor relativamente aos seus objectivos de vida. Sentem-se realizadas a nível profissional e pessoal.
 Cecília Santos de Oliveira, 94 anos, uma mãe que vive o seu quotidiano com as memórias que restam do seu filho. Aos 20 anos, José Oliveira é convocado pelo exército Português. Depois de tantos companheiros seus terem partido em defesa da pátria, José já calculava o que o destino lhe reservara. Cecília relembra o rosto do seu filho: “no dia em que partiu para a Guiné, não ouvi uma única palavra da sua boca. Só ouvi o adeus que já esperava. O rosto do meu filho metia dó. Deus me perdoe, mas parecia que já sabia que não voltaria a casa. Nunca o tinha visto tão pálido, tão triste. Ele foi sempre a alegria desta casa”. Passaram quase 4 meses desde a sua partida de Portugal. Em combate, é alvejado várias vezes, por vários soldados do inimigo. Por incrível que pareça, permanecia vivo, estendido chão. Nesse preciso momento, pairava no ar um avião.
 Maria do Céu Esteves, enfermeira pára-quedista durante a guerra colonial entre 1962 e 1975. Uma das “Seis Marias”. Seis mulheres que se distinguiram entre muitas outras. Não havia tempo a perder. Não existiam medos. A preocupação da eficácia na atuação no terreno era o mais importante para estas mulheres. No momento em que José é ferido, Maria lança-se no campo para atuar. É José de Oliveira quem Maria tenta salvar. O corpo do soldado foi resgatado. Foi feito tudo o que estava ao alcance da equipa médica. Infelizmente, o soldado José de Oliveira é dado como falecido em combate, a 17 de Outubro de 1968. Cecília não tinha condições financeiras para pedir transferência do corpo de José para Portugal. Decide, então, arranjar forma de viajar ate ao continente Africano. Maria do Céu, é quem comunica o falecimento de José e quem dá apoio moral e psicológico à família: “para além da morte do meu filho, recordo com tristeza e, ao mesmo tempo, com carinho as palavras dolorosas que a enfermeira me trouxe. As minhas lagrimas caíam em fio, mas as da enfermeira eram tantas como as minhas. Segundo ela, tinha feito tudo pelo Zé. Mesmo sem ele ao pé de mim, ficar-lhe-ei eternamente grata.” O carinho por Cecília, e às restantes enfermeiras, é um de muitos nos corações de várias famílias Portuguesas.
 Estas mulheres escolheram deixar para trás a rotina dos hospitais para partirem em busca de vidas em perigo, que necessitavam dos seus cuidados. Com elas foi a valentia e a bondade. Optaram por um mundo adrenalínico. Sem medos, aceitavam cada desafio diário. Superaram expectativas. Alteraram as tradições. Mudaram mentalidades. Marcaram a emancipação da Mulher antes e pós 25 de Abril. Hoje, são recordadas e louvadas com distinção, e reconhecidas com valor e mérito.  

Sofia Conde