Violência, sangue, tristeza, patriotismo,
luta, morte! São alguns conceitos que constituem um cenário de Guerra. A Guerra
do Ultramar não foge à regra. Hoje em dia residem apenas memórias, mazelas, e
muitos agradecimentos. Agradecimentos por soldados e suas famílias que
permanecem vivos para contarem as suas histórias. Muitos são os votos de gratidão
para com as imortais “Seis Marias”.Seis mulheres Portuguesas que caíam do céu
com missões de salvarem e resgatarem feridos ou mortos em combate. Hoje, vivem
com pontos a favor relativamente aos seus objectivos de vida. Sentem-se
realizadas a nível profissional e pessoal.
Cecília Santos de Oliveira, 94 anos, uma mãe
que vive o seu quotidiano com as memórias que restam do seu filho. Aos 20 anos,
José Oliveira é convocado pelo exército Português. Depois de tantos
companheiros seus terem partido em defesa da pátria, José já calculava o que o
destino lhe reservara. Cecília relembra o rosto do seu filho: “no dia em que
partiu para a Guiné, não ouvi uma única palavra da sua boca. Só ouvi o adeus
que já esperava. O rosto do meu filho metia dó. Deus me perdoe, mas parecia que
já sabia que não voltaria a casa. Nunca o tinha visto tão pálido, tão triste.
Ele foi sempre a alegria desta casa”. Passaram quase 4 meses desde a sua
partida de Portugal. Em combate, é alvejado várias vezes, por vários soldados
do inimigo. Por incrível que pareça, permanecia vivo, estendido chão. Nesse
preciso momento, pairava no ar um avião.
Maria do Céu Esteves, enfermeira pára-quedista
durante a guerra colonial entre 1962 e 1975. Uma das “Seis Marias”. Seis
mulheres que se distinguiram entre muitas outras. Não havia tempo a perder. Não
existiam medos. A preocupação da eficácia na atuação no terreno era o mais
importante para estas mulheres. No momento em que José é ferido, Maria lança-se
no campo para atuar. É José de Oliveira quem Maria tenta salvar. O corpo do
soldado foi resgatado. Foi feito tudo o que estava ao alcance da equipa médica.
Infelizmente, o soldado José de Oliveira é dado como falecido em combate, a 17
de Outubro de 1968. Cecília não tinha condições financeiras para pedir transferência
do corpo de José para Portugal. Decide, então, arranjar forma de viajar ate ao
continente Africano. Maria do Céu, é quem comunica o falecimento de José e quem
dá apoio moral e psicológico à família: “para além da morte do meu filho,
recordo com tristeza e, ao mesmo tempo, com carinho as palavras dolorosas que a
enfermeira me trouxe. As minhas lagrimas caíam em fio, mas as da enfermeira
eram tantas como as minhas. Segundo ela, tinha feito tudo pelo Zé. Mesmo sem
ele ao pé de mim, ficar-lhe-ei eternamente grata.” O carinho por Cecília, e às
restantes enfermeiras, é um de muitos nos corações de várias famílias
Portuguesas.
Estas mulheres escolheram deixar para trás a
rotina dos hospitais para partirem em busca de vidas em perigo, que
necessitavam dos seus cuidados. Com elas foi a valentia e a bondade. Optaram
por um mundo adrenalínico. Sem medos, aceitavam cada desafio diário. Superaram
expectativas. Alteraram as tradições. Mudaram mentalidades. Marcaram a
emancipação da Mulher antes e pós 25 de Abril. Hoje, são recordadas e louvadas
com distinção, e reconhecidas com valor e mérito.
Sofia Conde
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