Francisco Louçã, Economista, Politico e ex-líder do Bloco de esquerda, cargo que ocupou entre 2005 e 2012. Atualmente, continua, ativamente, na vida política, como o mesmo afirma: “… com muito gosto”. O LusOnda esteve à conversa com o político, que analisou a conjuntura económica portuguesa e as possíveis soluções para contornar a crise.
LusOnda: Lançou, recentemente, o livro “Isto é um assalto”. Na sua opinião os assaltados são sempre os mesmos? Porquê?
Francisco Louçã: Não são sempre os mesmos, mas têm sido, predominantemente, os trabalhadores. Agora, passaram a ser também os trabalhadores no ativo e os reformados. Os reformados é uma categoria nova de assaltados, nesta fase mais recente do reajustamento.
L: É possível combater essa situação? E como fazê-lo?
F.L.: É possível sim. Enfim, se houvesse um governo de esquerda com energia e mandato popular para anular o memorando da Troika, para recuperar o controlo sobre a economia portuguesa, nós teríamos uma viragem para uma politica redistributiva que permitisse investimento e criação de emprego, que permitisse alterar, profundamente, as condições politicas.
Repare, no verão passado, nós tivemos a noticia de que tinham sido repatriados, para Portugal, cerca de quatro mil milhões e euros, de pessoas individuais, que tinham escondido esse dinheiro para não pagarem impostos em offshores, tivemos aí uma pequena ponta do iceberg, mas o que não me podem dizer a mim é que é preciso cortar setecentos milhões nos pensionistas da função pública, da caixa geral de aposentações, porque não há dinheiro. Quando nós vemos pessoas que pouparam só em impostos, cerca de, 2 milhões de euros. O único caso que se soube quem era, era o Ricardo Salgado, como sabem é um homem que ganha um salário mínimo em cada dez em dez minutos, se atendermos à sua declaração de impostos, do ano passado. Portanto, que estas pessoas nos venham dizer que vivemos acima das nossas possibilidades, que é preciso aumentar os impostos, que é preciso cortar nas pensões e diminuir nos salários… eu não estou disposto a comprar esse argumento!
L: Acha que a situação atual seria diferente, se o governo pertencesse à esquerda e não à direita?
F.L.: Não. Nós tivemos, anteriormente, o governo do José Sócrates, que começou este processo e que assinou o primeiro memorando. José Sócrates, todos os domingos, repete que o memorando inicial era muito bom e que estes são muito maus, mas a lógica é que cada memorando é pior do que o seguinte, porque continuam na mesma trajetória. Tivemos um governo do partido Socialista, que foi um governo que decidiu, coisas que ainda não estão a ser feitas e que são péssimas: privatização dos Correios, cortes no Serviço Nacional de Saúde. O que acho é que é preciso um governo de esquerda, que rompa com a Troika. Acho que a diferença, em Portugal que se faz, é saber se mantemos ou não Portugal como um protetorado ou se rompemos com a Troika. E isso é que faria um governo de esquerda com coerência, com compromisso popular. Acho que isso é que faz a diferença.
L.: Existe algum país Lusófono que pudesse servir de exemplo, para Portugal, no combate à crise?
F.L.: Não. Não.
L.: Pretende voltar à vida política? (Como representante do Bloco de Esquerda)
F.L.: (Risos) Repare, isso é como aquela pergunta: vai deixar de bater na sua mulher? Não se pode responder nem sim nem não, não é?
Eu estou na vida política, como um cidadão deve estar. Sou do Bloco de Esquerda, estou ao trabalho do Bloco de Esquerda. Não sou porta-voz, porque acho que há um prazo para isso, há um tempo para isso, acho que é preciso importar isso. Isso faz parte da educação Republicana, acho que melhora a capacidade do Bloco ter outras pessoas, outras aprendizagens, outras lutas. Dou tudo o que posso para a atividade do Bloco. Participarei nas suas campanhas e atividades com muito gosto. Cá estou.
L.: Se fizesse parte do atual governo, que medidas adotava para controlar a crise?
F.L.: Acho que o que um Governo sério tinha de fazer era terminar o memorando, dizer à Troika: acabou! Acabou, temos um mandato popular para acabar com a política que provoca desemprego. Portugal perdeu seiscentos mil postos de trabalho, em dois anos. Tem 130 mil emigrantes, quer dizer que, em três anos, a continuar a este ritmo, num futuro próximo, perdemos um décimo da força de trabalho, em três anos. É uma tragédia, como a que tivemos nos anos sessenta, quando o país era totalmente pobre, vivia uma ditadura e tinha a Guerra Colonial. Temos um nível de emigração igual ao que tivemos, no pico maior, nos anos sessenta. Portanto isto não pode continuar. E o que tem que mudar é recuperar o controlo financeiro, recuperar o controlo de investimento, recuperar a criação de emprego. Caso contrário… o país é um desastre.
*Continua no post seguinte
Aline Araújo; Pedro Emídio; Rute Fidalgo
Sem comentários:
Enviar um comentário