sábado, 11 de maio de 2013

Vaivém da emigração em Angola


Numa altura em que muitos jovens, como também adultos, emigram em procura de um melhoramento nas suas vidas, os mais idosos relembram de quando fizeram o mesmo. Joaquim Farinha, agora com 83 anos, recorda o tempo em que emigrar era a solução. E recorda essa altura com alguma saudade.
Desde cedo, logo aos 12 anos, Joaquim aprendeu a ser sapateiro. Profissão que gostou e começou a exercer, rendendo-lhe os primeiros trocos. “Não havia dinheiro para continuar os estudos. Por isso, os jovens da altura eram obrigados a procurar trabalho desde muito cedo.”, afirma. Joaquim começou a dar os primeiros passos neste mundo, que para si era novo: o Mundo do Sapateiro. Recrutado por um sapateiro experiente (cujo nome não foi revelado), o jovem começa a aprender e a perceber do assunto. Era uma pequena empresa, em que cada trabalhador fazia os sapatos desde a primeira costura até ao acabamento final. Empresa essa, que ao ganhar notoriedade, foi necessitando de mais trabalhadores. Essa evolução trouxe uma padronização dos trabalhadores. Agora, cada um era responsável por determinada fase do sapato. Esta situação tornou-se desagradável para Joaquim, “Não gostei que o meu trabalho tivesse mudado. Gostava de começar e acabar o mesmo par de sapatos.”
É nesta altura que a vida de Joaquim dá uma volta. Desagradado com o trabalho “novo”, Joaquim pensa em emigrar. Decide-se por Angola, um país irmão. Mas não havia escolhido este país por mero acaso. Os portugueses a ir para Angola eram cada vez mais, mas o que mais pesou na sua decisão foi os dois tios que tinha lá, também emigrados. Com um sangue aventureiro e jovem, Joaquim emigra com 15 anos.
Os seus tios partilhavam um táxi, mas Joaquim estava determinado a procurar o emprego que tinha antes: fazer sapatos, a sua profissão de origem. “A sorte sorriu-me à porta. Não demorei muito a procurar aquilo que queria.” Satisfeito, agarrou-se ao trabalho.
Mas Angola começou, também, a crescer. E com o crescimento, o trabalho de Joaquim mudara novamente. Desta vez, Joaquim aceita a mudança. Era agora um senhor mais maduro e responsável. Acompanhando a evolução, o agora sr. Farinha, ficou por Angola durante 30 anos, acabando por voltar a Portugal.
“Gostei muito de lá estar. Não me arrependo de nada”, diz orgulhoso. É assim que Joaquim recorda a sua ida e volta a um país irmão, a sua vez de emigrar. Descreve a viagem como produtiva, enriquecedora, e onde se pode ter uma boa vida. O desejo de voltar é grande, mas admite que “está velho” para essas viagens. Ficaram para sempre as lembranças de um tempo bem passado.

João Ribeiro

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