Portugal Ultramarino. O nome dado a alguns países de
onde vinham vastas famílias. A maioria continua em Portugal. Muitos indivíduos
não regressaram às Colónias Os Retornados. Cidadãos que os Portugueses nunca
aceitaram por completo. O nosso povo sempre os viu como ameaças de agravamento
do desenvolvimento de Portugal. Actualmente, ainda são lembrados como pessoas
rudes, aproveitadoras, pouco produtivas, e sem preparação a nível profissional.
Mas na verdade, estes Retornados apresentaram um aspeto de grande valor.
Constituíram um importante fator de valorização da sociedade portuguesa, em
quase todos os setores da vida a nível nacional.
Artur Costa, 68 anos, reside em Almada, Setúbal. É
um dos muitos indivíduos que partiram das Colónias Ultramarinas. É um exemplo
de insucesso, pois a vida não lhe sorriu tanto quanto esperava. Tinha uma vida
plena, em Angola, onde nasceu, cresceu e constituiu família. Além de todos
estes fatores, ainda tinha a sua própria empresa. Nasce a 22 de Fevereiro de
1945, em Uíge, uma província de Angola. Filho de pais Portugueses e donos da
fazenda da própria família. Tinham criados negros que tratavam da fazenda e dos
produtos que eram cultivados. Este negócio funcionava como empresa fornecedora
aos mercados e lojas em cidades Angolanas mais povoadas, como Luanda ou Lobito.
Artur ingressa na vida escolar noutra cidade, em Malange. Uma outra cidade mais
desenvolvida e com mais população. Aos 19 anos, casa com Matilde Abrantes, sua
colega de escola que acaba por namorar. A 1966, muda-se para Luanda, a cidade
mais badalada de Angola. É lá que dá continuidade ao projeto dos seus pais e
onde nascem os seus dois filhos, João e Luís. Considerava-se um homem bastante
feliz e grato à vida: uma infância feliz, pais presentes, uma vida desafogada…
Mas Angola era ainda uma Colónia Portuguesa. Quando o povo de Luanda, e das restantes colónias toma conhecimento da Revolução dos Cravos e da decisão de Spínola, a
confusão e destruição instala-se. Artur vê-se obrigado a fugir das suas
origens. Os seus dois filhos desapareceram quando invadiram a sua moradia.
Matilde, é alvejada e acaba por falecer perto do mercado de Luanda, onde se
encontrava naquele momento. Resta a Artur a opção de fugir para Portugal:
“quando entrei no avião, nem queria acreditar que toda uma vida tinha ficado
ali ao abandono. A base e o mais importante de toda a história da minha vida,
ficou ali, destruída, fisicamente”. Verão de 1975. Artur chega à metrópole,
apenas com a roupa que tem no corpo e com uma fotografia de família, que
habitualmente guardara no bolso das calças. Vê-se sozinho, num país
desconhecido. Ao procurar ajuda, fica a saber que existe uma organização
preparada para ajudar os indivíduos vindos das antigas colónias – IARN. Artur
inscreveu-se, muitos dias depois, como retornado no IARN, para poder receber
algum dinheiro da parte do Estado. Nunca chegou a receber qualquer ajuda: “eram
demasiadas pessoas ao mesmo! A criação do IARN veio ajudar muita gente, mas nem
todos. Era impensável conseguirem ouvir-nos a todos”. Viveu durante vários anos
como sem abrigo. Chegou a consumir drogas. Chegado ao dia em que decide tomar
uma posição firme na sua vida. Procura trabalho e acaba por ser contratado por
uma empresa de jardinagem. É onde tem estado até aos dias de hoje. Perdeu a sua
família e o negócio de anos. Actualmente, partilha uma moradia pequena alugada,
com um dos seus colegas de trabalho. Vive cada dia com calma e com as memórias
bem vivas e presentes do passado.
Portugal, anos 60 e 70. Época de enormes
mudanças. Diversos novos conceitos são adquiridos pelo país. Retornado é um
deles. Era assim que os Portugueses apelidavam todos os indivíduos que chegavam
do continente Africano. Aqueles que optaram pela fuga das suas origens, em
busca do mais importante – a sobrevivência. Famílias inteiras chegavam a
Portugal. Para muitos, um país desconhecido. Traziam a roupa que tinham no
corpo e não muito mais. Acreditavam que tudo se resolveria. Mas os Portugueses
nunca viram estes indivíduos com bons olhos. Ainda hoje, o conceito de
Retornado se mantém firme. Muitos destes indivíduos conseguiram vingar em
Portugal, mas outros nem por isso. Jamais conseguiram reaver a posição social e
condições de vida que tinham nas Colónias “com todo o respeito a Portugal,
continuo a achar isto um povo inculto, e que, para além disso, não quer ser
governado e nem se deixa governar! Todos aqueles que apareciam a cada esquina,
com cara nova, era Retornado. Este povo, ainda hoje, usa este termo, sem saber
o que realmente significa. Não faz sentido, chamarem isto a alguém que nasceu e
cresceu nas Colónias…”.
Sofia Conde e Cláudia Évora
Sofia Conde e Cláudia Évora
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