João Sobral de 60 anos é o presidente da associação, sem fins
lucrativos, APOIAR e é também um Ex- combatente da guerra colonial nos anos 60.
A Associação de Apoio aos Ex-Combatentes e Vítimas do
Stress de Guerra (APOIAR), surgiu de um grupo de técnicos e de pacientes sujeitos a
terapia de grupo, nos serviços de psicoterapia do Hospital Júlio de Matos, em
Lisboa. Os grandes fundadores foram o Dr. Afonso Albuquerque e a Dra. Fani
Lopes.
A Associação tem como principal objetivo unir e ajudar ex-combatentes de
guerra, contribuindo para que estes ultrapassem e superem a doença, que em
Portugal é muito desprezada, quer pela população, quer pelo Estado.
O Stress de Guerra é uma doença com características de
perturbação pós-stress traumático de guerra e o desenvolvimento de sintomas
particulares que surgem em contexto de guerra.
A evolução histórica desta doença, surgiu após a Guerra do Vietname (1959-1975) e
a Guerra Colonial (1961-1974).
Nestas situações de distúrbio encontra-se relacionada com um
acontecimento de grande stress.
Os grandes fatores , responsáveis por esta doença podem ser: a
morte de um camarada, assassinato, tortura, violação, ferimentos em combate, mulher
grávida, o isolamento, a sede e a fome.
Em 1997 a Associação APOIAR situava-se na Avenida de Roma,
onde permaneceu até 2003.
Em acordo com a Câmara Municipal de Lisboa são concedidas, à
APOIAR, novas instalações no Bairro da Liberdade, em Campolide, junto à Estação
de Comboios.
A Associação APOIAR é um lugar de convívio onde os sócios
conversam e, sobretudo, onde podem pousar a cabeça num ombro amigo, nos seus
momentos de sofrimento e solidão. Podem, ainda, aceder à internet, jogar jogos ou ver TV.
Nesta Associação não se encontra apenas apoio social, existem também serviços clínicos (clínica geral/psiquiatria) e psicólogos.
Em entrevista à LusOnda, João Sobral diz:
“São muitas as vezes que receitam e doam medicamentos a
estes doentes, que em Portugal, não são vistos como doentes mas como “malucos”.
É uma doença verdadeiramente esquecida e desprezada em Portugal.
Estas pessoas não devem ser excluídas socialmente, enviamos
todos os esforços para a sua reinserção na sociedade."
Segundo o Presidente da APOIAR, a Lei 43/76 não está adaptada à doença mental, estando associada apenas aos doentes físicos. Existem casos com 14 anos, ainda por resolver na justiça e muitas
são as pessoas que morrem antes de serem ajudadas, pois este conjunto de pessoas
encontra muitos obstáculos.
Cerca de sessenta mil ex-combatentes sofrem desta doença, sem
receberem qualquer tipo de ajuda do Estado. São pessoas que ficam marcadas para
toda a vida.
Também as famílias ficam marcadas e muitas destas pessoas
acabam por ser conhecidas pela sociedade como malucas, pois parte da população
desconhece a doença.
Além de serem desprezados, sofrem por não encontrarem emprego, e quando arranjam são mal pagos.
“Eu também sofri muito, doeu ver amigos meus morrerem à minha
frente e eu nada poder fazer, senão fugir para não morrer também. É um trauma
eterno”, relembra João Sobral.
Tânia Costa
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