domingo, 12 de maio de 2013

Vítimas do stress de guerra


João Sobral de 60 anos é o presidente da associação, sem fins lucrativos, APOIAR e é também um Ex- combatente da guerra colonial nos anos 60.
A Associação de Apoio aos Ex-Combatentes e Vítimas do Stress de Guerra (APOIAR), surgiu de um grupo de técnicos e de pacientes sujeitos a terapia de grupo, nos serviços de psicoterapia do Hospital Júlio de Matos, em Lisboa. Os grandes fundadores foram o Dr. Afonso Albuquerque e a Dra. Fani Lopes.
A Associação tem como principal objetivo unir e ajudar ex-combatentes de guerra, contribuindo para que estes ultrapassem e superem a doença, que em Portugal é muito desprezada, quer pela população, quer pelo Estado.
O Stress de Guerra é uma doença com características de perturbação pós-stress traumático de guerra e o desenvolvimento de sintomas particulares que surgem em contexto de guerra.
A evolução histórica desta doença, surgiu após a Guerra do Vietname (1959-1975) e a Guerra Colonial (1961-1974).
Nestas situações de distúrbio encontra-se relacionada com um acontecimento de grande stress.
Os grandes fatores , responsáveis por esta doença podem ser: a morte de um camarada, assassinato, tortura, violação, ferimentos em combate, mulher grávida, o isolamento, a sede e a fome.
Em 1997 a Associação APOIAR situava-se na Avenida de Roma, onde permaneceu até 2003.
Em acordo com a Câmara Municipal de Lisboa são concedidas, à APOIAR, novas instalações no Bairro da Liberdade, em Campolide, junto à Estação de Comboios.
A Associação APOIAR é um lugar de convívio onde os sócios conversam e, sobretudo, onde podem pousar a cabeça num ombro amigo, nos seus momentos de sofrimento e solidão. Podem, ainda, aceder à internet, jogar jogos ou ver TV.
Nesta Associação não se encontra apenas apoio social, existem também serviços clínicos (clínica geral/psiquiatria) e psicólogos.
Em entrevista à LusOnda, João Sobral diz:
“São muitas as vezes que receitam e doam medicamentos a estes doentes, que em Portugal, não são vistos como doentes mas como “malucos”. É uma doença verdadeiramente esquecida e desprezada em Portugal.
Estas pessoas não devem ser excluídas socialmente, enviamos todos os esforços para a sua reinserção na sociedade."
Segundo o Presidente da APOIAR, a Lei 43/76 não está adaptada à doença mental, estando associada apenas aos doentes físicos. Existem casos com 14 anos, ainda por resolver na justiça e muitas são as pessoas que morrem antes de serem ajudadas, pois este conjunto de pessoas encontra muitos obstáculos.
Cerca de sessenta mil ex-combatentes sofrem desta doença, sem receberem qualquer tipo de ajuda do Estado. São pessoas que ficam marcadas para toda a vida.
Também as famílias ficam marcadas e muitas destas pessoas acabam por ser conhecidas pela sociedade como malucas, pois parte da população desconhece a doença.
Além de serem desprezados, sofrem por não encontrarem emprego, e quando arranjam são mal pagos.

“Eu também sofri muito, doeu ver amigos meus morrerem à minha frente e eu nada poder fazer, senão fugir para não morrer também. É um trauma eterno”, relembra João Sobral.

Tânia Costa

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