segunda-feira, 11 de março de 2013

Quem é o único deputado negro na AR?



 lder Amaral nasceu em Angola há 45 anos e é deputado pelo CDS-PP. Já foi discriminado nas mais diversas circunstâncias devido ao seu tom de pele. E diz que a Lusofonia precisa de mais espaço.


É o único deputado negro na Assembleia da República. Isso importa para os seus colegas?
Houve um esforço de muitos de criarem um clima de normalidade e até de carinho e incentivo. Outros há que mantêm o sentimento inicial de desconforto. O facto de ser o único não ajuda, e seria positivo que existissem outros. Neste caso, a exclusividade não é benéfica. A AR devia refletir a realidade da sociedade portuguesa, e há muitos luso-africanos, indianos, brasileiros, timorenses, negros e não negros, nascidos lá fora, e ainda nascidos em Portugal, sendo que muitos destes nem conhecem África, e são só negros portugueses.

Alguma vez se sentiu discriminado?
Muitas vezes, como julgo que acontece com todos. Coube-me a maior parte do esforço para conquistar o meu espaço e direitos, mas sem nunca desistir de lutar pelo meu lugar e de ser julgado e avaliado pelas minhas capacidades e não pela cor da pele, ou pela origem geográfica. O pior seria impor-me a mim próprio qualquer tipo de limitação: o exercício é de plena liberdade, como ela deve ser entendida - fazer tudo o que podemos fazer.

Nasceu em Angola, onde ainda vive a sua Mãe e familiares. O que guarda da cultura angolana?
Guardo menos do que desejaria, e mais do que imagino. Tenho mais tempo de Portugal do que de Angola,  e tenho feito um esforço de aprendizagem simplificado pelo sentimento de “dejá vu” sempre que experimento algo - parece que já conhecia o sabor, os cheiros, a música… Não consigo ficar indiferente ao kizomba, ou a um bom prato de funge. Nada na cultura angolana me é estranho. Sempre que visito a família sinto que estou em casa, que faço parte daquele mundo.

Com que frequência vai a Angola? Quando foi a última vez que lá foi e quando tenciona voltar?

As obrigações profissionais e familiares não têm permitido ir tantas vezes como gostaria, mas tenho conseguido ir de dois em dois anos. Tenciono voltar  muito em breve.

A Lusofonia tem um espaço real no mundo?
Os povos da mesma fala, a “pátria da língua”, devem defender o reforço dos laços entre os países lusófonos, e a todos os níveis: cultural, social, económico e político. Portugal pode e deve impor-se na Europa, mas não deve fechar a sua “janela de liberdade” que é o mundo lusófono. O Português é uma das línguas mais vivas do mundo, a quinta mais falada no mundo e uma das principais da internet, tem a importância enorme de unidade, símbolo de uma herança histórica comum, mas tem um valor económico incalculável. Um mundo lusófono é um mundo do Mar, pois todos são países marítimos. A Lusofonia é fundamental para a região do Atlântico. Se conseguirmos criar uma cidadania da “lusofonia”, julgo que a partilha das relações económicas e sociais dariam mais força à lusofonia num mundo globalizado.

Portugal é um país acolhedor na Lusofonia?
Portugal tem no seu ADN ser um país acolhedor, o que levou e potenciou no mundo Lusófono, que possui essa caraterística.

Com qual dos Países da Lusofonia Portugal se identifica mais?
Cabo Verde, até pelo facto de ser politicamente estável, e de ter uma parceria estratégica com a UE, o que significa estar muito próximo dos valores que representam o modelo social europeu.

Acha que em termos culturais e económicos a Lusofonia podia ir mais além?
Pode e deve. O reforço do mundo Lusófono é útil para todos. Para além de se tratar de realidades culturais muito diferenciadas em termos económicos, tem países emergentes, países em recessão, países estáveis, que são uma oportunidade cultural e económica. Para todos os países da CPLP, o futuro passe por uma maior integração, cooperação, um espaço de construção de mais segurança, mais desenvolvimento económico e social, melhor governação, de partilha não só de um mercado, mas de identidade cultural.

Cláudia Évora


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