Pedir um empréstimo bancário era uma incógnita para a grande maioria dos
Portugueses. Não havia salário mínimo, nem de férias nem de Natal. Os idosos
tinham pensões hilariantes, aliás, a maior parte deles nem sequer tinha
reforma. Vivíamos no tempo do escudo. Os tempos eram diferentes. Não havia
crise, o FMI muito provavelmente seria confundido com um clube de futebol e a
Troika poderia muito bem ser o novo hit
dos ABBA.
De acordo com Elias Quadros, professor na Universidade Lusófona, a adesão
ao Euro levou à crise actual, conjuntura esta que também se poderia verificar
caso não tivesse ocorrido a Revolução dos Cravos, mas “menos intensa, porque a
integração no Euro trouxe consequências que não foram acauteladas”. O
empreendedorismo também era diferente, uma vez que, segundo o docente, “a livre
iniciativa estava muito cercada pelo condicionalismo industrial”. O que quer
dizer que hoje as pessoas estariam muito mais propícias a iniciar novos
negócios, coisa que o ‘bicho-papão’ da crise não permite. “É natural o medo de
arriscar, desenvolveram-se milhentas burocracias estúpidas que tolhem a vontade
de abrir até pequenos negócios”, revela Elias, perito em assuntos empresariais.
E empreendedorismo é mais uma palavra moderna. Antes do 25 de Abril de 1974,
havia muito pouco comércio, não havia o leque vasto de opções dos nossos dias,
até porque as mulheres não podiam iniciar negócios sem o consentimento dos
cônjuges. ,Desta maneira seria mais difícil fundar empresas nos anos 70. A
escolaridade permitiu essa expansão, uma vez que actualmente “há outras
capacitações para ler o ambiente e espreitar oportunidades”, explica o docente.
Mas o 25 de Abril não é só sinónimo de saudosismo, ele também permitiu o
regresso de vários portugueses de África, comummente
apelidados de ‘retornados’. “Eles”, citando de novo o professor, doutor em
Ciência Política, “vieram mudar a economia. Foram um sangue novo que veio
animar a economia. Muitos portugueses não eram exploradores de ‘negros’. Eram
sim, gente de bem que viviam graças à imaginação, espirito empreendedor e
muito, muito, muito trabalho”.
Mas apesar da primazia da Revolução que hoje se comemora, um estudo feito
pelo GFK em 2011 afirma que, quase metade dos Portugueses considera que as
actuais c
ondições económicas são muito piores do que nos tempos em que Salazar
era rei.
Rute Fidalgo
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