São seis horas da tarde e Leidelaura senta-se no sofá,
cabelo loiro e pele morena, sorri. Está no seu local de trabalho e não se pode
alongar no tempo, há banhos e jantares para dar. Está a trabalhar desde as oito
horas da manhã e só irá abandonar o local de trabalho dai a uma hora e meia.
Compõe o cabelo. Leidelaura está em Portugal há seis anos atrás. Viu-se
obrigada a deixar o seu país por falta de emprego. A vida inteira foi doméstica
e tomou conta de crianças. Leidelaura é casada e tem um filho de dezasseis
anos. Lá em casa moram cinco pessoas, a família que Leidelaura construiu, a sua
mãe e o padrasto, de quem é muito próxima e com quem sempre viveu, mesmo depois
de casar.
Estava no Brasil desempregada e concorreu a um concurso
público, disse á mãe que caso não entrasse vinha ter com ela a Portugal “Me dediquei a esse concurso mas nem é
preciso a gente falar, já têm pessoas escolhidas..” diz Leidelaura. Em Junho soube que não era a
escolhida e em Agosto estava a caminho de Portugal.
“Eu vim por Madrid
porque não podia vir directa, é aquela coisa de que Brasileiro não podia entrar
directo. Minha viagem foi abençoada por Deus. Ninguém olhou para a minha cara,
ninguém viu se eu era preta, se eu era branca, se eu era Brasileira..
passaporte carimbado e pronto. Foi isso que aconteceu e eu cheguei” explica Leidelaura que nunca tinha vindo a
Portugal antes “Eu nem sabia como era
Portugal, eu sabia que existia, eu estudei e eu via no mapa mas não sabia nem
para que lado andava, bem para que lado era. Mas sei dizer que no dia em que
pisei o pé no Aeroporto de Lisboa, adorei. Eu gosto, eu adoro Portugal.”
Leidelaura não teve grandes problemas quando chegou a
Portugal, a mãe que já estava em Portugal antes da sua chegada arranjou-lhe
três empregos que lhe permitiam ganhar muito bem mas por circunstancias da vida
Leidelaura preferiu dedicar-se a uma casa só, aonde ainda trabalha no momento.
Foi em 2005 que Leidelaura veio morar para Portugal e um ano
depois já estava legalizada. “A gente
aqui não pode trabalhar sem contracto e temos que fazer um desconto enorme como
todo o mundo, mas nós ainda fazemos mais que os Portugueses, porque os
Portugueses não têm perigos de ser importados e agente tem que fazer isso mais
do que os outros.” conclui Leidelaura.
Quanto ás principais diferenças e prós e contras que
Portugal tem em relação ao Brasil Leidelaura fala de imediato na segurança pois
considera que apesar de a própria e os seus familiares nunca terem corrido
risco de vida no Brasil, Portugal é um país mais seguro. Leidelaura faz também
referência ao custo de vida, pelo menos há seis anos atrás aonde esteve pela
última vez no Brasil os bens materiais supérfluos são exageradamente caros e
por isso Leidelaura teve pela primeira vez no Brasil um telemóvel porque a sua
mãe lhe enviou de Portugal. “Aqui eu tive
o meu carrinho, meus telemóveis eu sempre tou a trocar, meu computador só tive
aqui, lá no Brasil nunca tive, mas atenção, eu amo o meu país e pretendo voltar
um dia” conta Leidelaura.
Quando se fala em pensar em voltar a morar no Brasil Leidelaura
ri-se “Minha mãe toda a hora fala :
“quero ir embora”, já foi embora e ficou seis meses no Brasil, me deixou aqui.
Era todo dia : “vem embora” , “não
vou”.. acabou por desistir de me esperar
e retornou de novo. Eu penso muito em construir uma vida aqui e comprar uma
casa aqui mas a gente não sabe o dia de amanha, minha mãe diz que no Brasil tá
muito bom e a gente não pode dizer que nunca vai voltar porque não sabe o dia
de amanhã.”
Mas nem tudo foi uma felicidade desde que se mudaram para
Portugal e Leidelaura e a família já sentiram momentos de descriminação por
serem Brasileiros. No aluguer de casa, segundo Leidelaura, dizem logo que os
Brasileiros são uns taberneiros, Leidelaura não concorda e sempre defendeu que
os povo Brasileiro é um povo batalhador e que luta por aquilo que quer sem
desistir facilmente, houve até um episodio que Leidelaura relata de imediato
quando se fala em racismo “No prédio
aonde a gente morava tinha uma vizinha nossa que era Portuguesa e um dia ela se
irritou com a gente porque nós somos muito festivos e gostamos de fazer
churrasquinho, gostamos de fazer festinha mas sempre respeitando os direitos de
cada um e essa senhora por sinal humilhou a gente, que a gente vinha da
miséria, que no nosso país tava passando fome, que a gente não prestava, com
essas palavra, ela falou para a gente isso uma vez que encontrou a gente na
escada, isso tudo porque a gente tinha feito uma festinha que por acaso foi de
dia, foi até o meu aniversário(...) Nós começamos a perceber como funcionavam
os horários aqui em Portugal, que a partir das dez não se pode fazer barulho e
por isso a gente fez de tarde” conclui Leidelaura que ao final da conversa
se levanta para ir tratar do jantar.
Inês Castro
Sem comentários:
Enviar um comentário