terça-feira, 30 de abril de 2013

"Mamã Graça- Defensora das mulheres e crianças"



Da sua residência de estudante na Alameda das Linhas de Torres, no bairro lisboeta do Lumiar, à Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, passando pelos campos de guerrilha da Frelimo, na Tanzânia, pela euforia da independência do seu país, quando tinha apenas 28 anos, e pelo governo que integrou a seguir, à cerimónia de Doutoramento Honoris Causa na Universidade de Évora, desenha-se o percurso de uma das mais notáveis mulheres africanas: Graça Machel ou “mamã Graça”, como carinhosamente gostam de a tratar os jovens moçambicanos. Para eles, é um símbolo que ultrapassa as próprias divisões partidárias e ideológicas do país.

Graça Machel é uma defensora, de renome internacional, dos direitos das mulheres e das crianças, e tem sido uma activista política e social ao longo de décadas.
Podemos vê-la a discursar para o The Economist, para o World Economic Forum,  encontros que contam com a presença de personalidades como Bob Geldof , Tony Blair ou Kofi Annan.
Mulher conhecedora da realidade,  afirmando que nem sempre a solução para um país é a solução ideal para outro, mas sempre disposta a contribuir para o encontro da solução adequada para ultrapassar os desafios.

Promotora do investimento na educação, fomenta a importância de aumentar as competências de gestão e talentos nos jovens.
Como fazer melhor, como fazer diferente, abordagem constante de Graça Machel afirmando que mesmo em tempos de crise é tempo de criar oportunidades, identificando em África e no resto do Mundo formas para redefinir a nova economia mundial e olhando para África como parte da solução .
Tem a visão de uma África líder, identificando as suas qualidades e considerando-a parte integrante da solução, “Não somos um continente pobre. Somos um continente empobrecido”, afirma. É necessário mais investimento na economia real de África, principalmente de infra-estrutura, energia renovável, agricultura e comunicação.

Ao longo de sua carreira, foi internacionalmente reconhecida. Em 1992,  foi premiada com o Nobel de África para a Liderança Sustentável para o Fim da Fome pelo Projecto Fome. Em 1995, recebeu a Medalha Nansen em reconhecimento da sua contribuição para o bem-estar das crianças refugiadas, também foi galardoada com o Inter Press Achievement Award do Serviço Internacional por ajudar as crianças em todo o mundo. Actualmente é presidente da Fundação para a Comunidade para o Desenvolvimento e Presidente da Organização Nacional de Crianças de Moçambique.
Foi presidente da Comissão Nacional da UNESCO em Moçambique e delegada para a conferência da UNICEF em Harare, Zimbabwe, em 1988. Em 1990, a Sra. Machel participou no comité director internacional da Conferência Mundial sobre Educação para Todos. Em 1994, foi nomeada perita para presidir o Estudo sobre o Impacto dos Conflitos Armados sobre as Crianças. Foi eleita pela revista "Time" uma das 100 figuras mais influentes do mundo em 2010.

A passagem pelo Ministério da Educação do Governo de Moçambique ficou marcada por um enorme incremento nesse sector e muito particularmente no acesso das mulheres à instrução. O número de estudantes nas escolas aumentou em 80 por cento, dos quais cerca de 45 por cento do sexo feminino, resultado do trabalho desenvolvido por Graça Machel, principalmente em zonas rurais, consciencializando os pais para a importância da educação das suas filhas e combatendo hábitos culturais enraizados.
Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), uma organização sem fins lucrativos moçambicana fundada em 1994. A FDC faz doações para organizações da sociedade civil para fortalecer as comunidades, facilitar a justiça económica e social, e ajudar na reconstrução e desenvolvimento do pós-guerra em Moçambique.

Ligada pelo casamento e, de certo modo por circunstâncias históricas, a dois dos mais notáveis líderes africanos, Graça Machel é a viúva do primeiro presidente de Moçambique ‘Samora Machel’. É  casada com o ex-presidente da República da África do Sul, Nelson Mandela. O jornalista Gary Younge, apelidou a união como ‘o pai da nação e a viúva da revolução’. Junto com Mandela, ela é um membro fundador dos Anciãos - um grupo independente de líderes globais – que pensam o Mundo, a humanidade, e questionam as verdades instituídas de forma ousada. Deste grupo fazem parte personalidades como Kofi Annan, Fernando H Cardoso, Jimmy Carter, Gro Harlem Brundtland, Mary Robinson, Desmond Tutu.

A psicóloga portuguesa Maria Belo, quem melhor definiu o perfil de Graça Machel ao sublinhar que “estes dois homens iluminam-na, mas não a ofuscam porque ela tem luz própria”.

 Haileka Ferreira

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