Da sua residência de estudante na Alameda das Linhas de Torres, no bairro lisboeta do Lumiar, à Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, passando pelos campos de guerrilha da Frelimo, na Tanzânia, pela euforia da independência do seu país, quando tinha apenas 28 anos, e pelo governo que integrou a seguir, à cerimónia de Doutoramento Honoris Causa na Universidade de Évora, desenha-se o percurso de uma das mais notáveis mulheres africanas: Graça Machel ou “mamã Graça”, como carinhosamente gostam de a tratar os jovens moçambicanos. Para eles, é um símbolo que ultrapassa as próprias divisões partidárias e ideológicas do país.
Graça Machel é uma defensora,
de renome internacional, dos direitos
das mulheres e das crianças, e
tem sido uma activista política e
social ao longo de décadas.
Podemos vê-la a discursar
para o The Economist, para o World Economic Forum, encontros que contam com a presença de personalidades
como Bob Geldof , Tony Blair ou Kofi Annan.
Mulher conhecedora da
realidade, afirmando que nem sempre a solução
para um país é a solução ideal para outro, mas sempre disposta a contribuir
para o encontro da solução adequada para ultrapassar os desafios.
Promotora do investimento na
educação, fomenta a importância de aumentar as competências de gestão e
talentos nos jovens.
Como fazer melhor, como fazer
diferente, abordagem constante de Graça Machel afirmando que mesmo em tempos de
crise é tempo de criar oportunidades, identificando em África e no resto do Mundo
formas para redefinir a nova economia mundial e olhando para África como parte
da solução .
Tem a visão de uma África
líder, identificando as suas qualidades e considerando-a parte integrante da
solução, “Não somos um continente pobre. Somos um continente empobrecido”,
afirma. É necessário mais investimento na economia real de África,
principalmente de infra-estrutura, energia renovável, agricultura e
comunicação.
Ao longo de sua carreira, foi internacionalmente
reconhecida. Em 1992, foi premiada com o Nobel de África para a Liderança Sustentável para o Fim da
Fome pelo Projecto Fome. Em 1995, recebeu a Medalha Nansen em reconhecimento da sua contribuição
para o bem-estar das crianças
refugiadas, também foi galardoada
com o Inter Press Achievement
Award do Serviço Internacional
por ajudar as crianças em todo o
mundo. Actualmente é presidente
da Fundação para a Comunidade para o
Desenvolvimento e Presidente da
Organização Nacional de Crianças
de Moçambique.
Foi presidente da Comissão Nacional da
UNESCO em Moçambique e delegada para a conferência da UNICEF em Harare, Zimbabwe, em
1988. Em 1990, a Sra. Machel
participou no comité director internacional da Conferência Mundial sobre Educação para Todos. Em 1994, foi nomeada perita para
presidir o Estudo sobre o Impacto dos Conflitos Armados sobre as Crianças. Foi
eleita pela revista "Time" uma das 100 figuras mais influentes do
mundo em 2010.
A passagem pelo Ministério da
Educação do Governo de Moçambique ficou marcada por um enorme incremento nesse
sector e muito particularmente no acesso das mulheres à instrução. O número de
estudantes nas escolas aumentou em 80 por cento, dos quais cerca de 45 por
cento do sexo feminino, resultado do trabalho desenvolvido por Graça Machel,
principalmente em zonas rurais, consciencializando os pais para a importância
da educação das suas filhas e combatendo hábitos culturais enraizados.
Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da
Comunidade (FDC), uma organização sem fins lucrativos
moçambicana fundada em 1994. A FDC faz doações para organizações da sociedade civil para fortalecer as
comunidades, facilitar a justiça
económica e social, e ajudar na reconstrução
e desenvolvimento do pós-guerra em
Moçambique.
Ligada pelo casamento e, de
certo modo por circunstâncias históricas, a dois dos mais notáveis líderes
africanos, Graça Machel é a viúva do primeiro presidente de Moçambique ‘Samora Machel’. É casada com o ex-presidente
da República da África do Sul, Nelson Mandela. O
jornalista Gary Younge, apelidou a união como ‘o pai da nação e a viúva da
revolução’. Junto com Mandela, ela é
um membro fundador dos Anciãos - um grupo independente de líderes globais – que
pensam o Mundo, a humanidade, e questionam as verdades instituídas de forma
ousada. Deste grupo fazem parte personalidades como Kofi Annan, Fernando H
Cardoso, Jimmy Carter, Gro Harlem Brundtland, Mary Robinson, Desmond Tutu.
A psicóloga portuguesa Maria
Belo, quem melhor definiu o perfil de Graça Machel ao sublinhar que “estes dois
homens iluminam-na, mas não a ofuscam porque ela tem luz própria”.
Haileka Ferreira
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