O relógio
que traz no braço marca agora vinte e duas horas e o cansaço não é uma barreira
que o faça parar. Faltam cerca de noventa minutos para voltar a casa. O dia
começou cedo e como sempre termina tarde. Dar aulas, treinar e preparar novos
projectos são as prioridades diárias de Fábio e amanhã será outro dia.
Por entre o
frio que nem sente, os movimentos saem naturalmente sem quase ter de os
repetir. O sorriso que traz no rosto revela a felicidade que sente a cada gesto
que deixa fugir, sem qualquer timidez. Dançar é a sua vida, o que o motiva a
nunca desistir de um sonho.
Tinha treze
anos quando deixou a terra natal, Angola. Passados outros onze continua em
Portugal, o país escolhido pelo pai, para estudar e encontrar melhores
condições de vida, e oportunidades. Não mais voltou a Angola e as saudades da
família apertam a cada dia que passa. “Infelizmente
desde que cá estou ainda não voltei, espero este verão voltar para reencontrar
toda a minha família.”
Interrompeu
os estudos na Escola Superior de Dança, mas o regresso está à vista. “De
momento parei no segundo ano da faculdade na Escola Superior de Dança, devido a
questões económicas, mas pretendo voltar claro.”
Mas o sonho de
ser bailarino já não é recente. Surgiu quando um grupo de amigos se juntou e
deu vida aos “Pupilos do Kuduro” que
animavam as festas do secundário ao som da música tipicamente africana. “Éramos alunos/amigos e
decidimos fazer um grupo de kuduro para as listas”. A partir desse dia descobriu que
queria percorrer um novo mundo, o mundo da dança.
Das danças de
salão ao ballet, o bailarino assume-se versátil: pratica todos os estilos, mas
reconhece que o que realmente o define é o Hip-Hop.
Entre aulas
que coordena e treinos diários, não há espaço para tempos livres. ”Eu não tenho muito tempo livre, pois eu vivo
e respiro dança, e se chamar tempo livre de treino, então este sim é o meu
tempo livre.. Ou seja quando não estou a trabalhar estou a treinar para mais e
mais aperfeiçoar as minhas técnicas.”
O talento de
Fábio já foi além-fronteiras: atuou em França e Holanda e afirma que “foi uma experiência óptima um outro nível
outra mentalidade foi muito bom mesmo aprendi bastante.”
E quando se
fala em discriminação nos bailarinos, não considera esse um maior problema. “ Diretamente não sinto, acho é que existe
uma falta de companheirismo entre os bailarinos embora já esteja muito melhor”
Já no que se
refere ao reconhecimento e valorização do trabalho, no mundo da dança, o
bailarino considera que “existe uma falta
de saber pois não sabem o que os bailarinos fazem para poderem apresentar, o
quanto treinamos o tempo que perdemos para que tudo esteja perfeito. Leva
tempo, então acho que não valorizam muito.”
Apesar de
todas as barreiras que acredita conseguir ultrapassar, é com dedicação que
Fábio encara cada dia como um desafio e apesar das dificuldades já conhecidas
no que se refere à sua profissão, desistir não faz parte dos planos. “O meu maior objectivo é ser feliz no que
faço, sem ter que chorar e lutar para conseguir algo. Apenas quero ser um
Bailarino mais que versátil, e poder chegar a todos e passar a paixão que sinto
aqueles que também querem seguir este sonho.”
Ana Rita Amorim
Ana Rita Amorim
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