quinta-feira, 4 de abril de 2013

Adriano Moreira: A memória viva do Ultramar


Pisou em terreno Africano, pela primeira vez, na década de 50,aqui, tem aquela a que chama a sua primeira “queda no mundo”:  “…cheguei à conclusão de que a realidade não correspondia àquilo que eu próprio ensinava”. O Segundo momento, definido como uma “ segunda queda no mundo”, fora aquando da sua participação numa missão portuguesa nas Nações Unidas. As vozes do povo, até então silenciadas, faziam-se agora ouvir, em liberdade, despertando em si o desejo e o dever de reformar o ensino. 
 Adriano Moreira, hoje com 90 anos, foi uma das figuras mais marcantes na política do Estado Novo, tendo sido convidado por Salazar para ministro do Ultramar em 1961 - altura em que despoletavam as primeiras revoltas contra a colonização em Angola. A ele cabia o importante papel de implementar um conjunto de reformas, tendo em conta o que ensinava nas suas aulas. Neste cargo, é de salientar a sua atividade legislativa, que deu origem  ao Código de Trabalho Rural, à extinção do estatuto do Indigenato e uma presença em territórios coloniais, que lhe conferiram popularidade.
Via como primordial a necessidade do ensinamento na área das ciências sociais, de forma a serem reunidas as condições para se saber, mais do que administrar as colónias, lidar com as diferenças culturais que separavam os povos e com os encontros, conflituosos,entre estas diferentes culturas.
Adriano Moreira nasceu em 1922 em Macedo de Cavaleiros, lincenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa e realizou o doutoramento no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina(ISCSPU). Após uma carreira como advogado, passa a dedicar-se ao estudo da ciência política e relações internacionais.
Em 1963, após algumas divergências com Salazar, deixa o seu cargo no Governo , e passa a estar mais presente na vida académica,como diretor do  ISCSPU, onde esteve durante doze anos. Após o 25 de Abril de 1974, perde os seus poderes políticos por ter sido ministro durante o Estado Novo. Durante alguns anos esteve exilado no Brasil, contudo veio a ser uma 'raridade' política, que tendo,com relevância, participado no Estado Novo, prolongava agora a sua carreira política no novo regime. Em 1980 é eleito deputado pelo Centro Democrático Social (CDS) e permanece na Assembleia da República até 1995. Adriano Moreira, refere no entanto, nunca ter tido intenções de ser Presidente da República.
Doutor honoris causa por diversas universidades e membro de várias academias científicas nacionais e estrangeiras, publicou inúmeros e diversificados trabalhos, no âmbito de direito, da ciência política, das relações internacionais e algumas edições de intervenção política conjuntural.
Na verdade, para Adriano Moreira, a sua vida era a escola, aqui residia a sua paixão. A participação política, via-a como um dever, uma obrigação cívica. É dos poucos, ‘sobreviventes’ políticos do Estado Novo que mantém viva a memória de uma época intensa e gritante, de conturbação política e social, quer para Portugal, quer para as colónias Africanas.

Cláudia Matos

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