“Nós temos que evitar ser mais papistas que o Papa, e eu acho que nesta
altura estamos a ser mais papistas que o Papa. Isso é negativo! Corremos o
risco de implantar uma grafia que depois ninguém siga, a não sermos nós, e isso
seria bastante negativo.” Palavras do Presidente da Comissão Parlamentar de
Educação, Ciência e Cultura, José Ribeiro e Castro, relativamente ao novo Acordo Ortográfico. Além de
um membro do Parlamento, é um cidadão Português que se mostra indignado com
esta decisão tão rápida de impor um novo Acordo Ortográfico, sendo este o 3º
desde o início do século XX.
José Duarte de Almeida Ribeiro e Castro, 59
anos, alfacinha de gema. Além de advogado, torna-se também político. Mantém uma
posição bastante vincada no que toca ao novo acordo ortográfico. Refere que o
objetivo não é colocar 8 países a escrever e a falar o mesmo Português: “Escrever e falar o mesmo português nunca
acontecerá. É digamos que o mesmo português dentro duma banda governável em
termos de ortografia”. Para José Ribeiro e Castro é mais fácil tornar igual
a grafia entre países, do que aplicar este acordo à fala de cada comunidade.
Cada país ou mesmo localidade, tem o seu próprio sotaque. É essa a riqueza e
uma das características que fazem a “cara” de um país. Este novo acordo tem uma
particularidade, é o primeiro após a independência das colónias Africanas.
Surgiram até hoje com uma principal finalidade: criar uma grafia comum, que
proteja os interesses do cidadão Português como língua Internacional: “as línguas são organismos vivos, têm a sua
dinâmica, têm a sua evolução e a língua é um instrumento de comunicação e
portanto tem a ver com a comunidade onde a praticamos. E portanto, igual, igual
nunca será”. A seu ver, este AO tem os seus prós e contras. Os aspetos
positivos seriam justamente “permitir uma
unidade política na afirmação e valorização da língua portuguesa a nível
mundial, e assim combater, uma tendência que se poderia gerar, em considerar
que há por um lado a língua portuguesa e depois, uma coisa que não existe, que
seria o brasileiro”. No que toca a desvantagens, haveria uma
descaraterização da língua. A perda do sentido das palavras devido à sua
compreensão, e o facto das pessoas se sentirem “perdidas” na sua própria
identidade.
A alteração da forma como escrevemos, é o aspeto mais criticado,
e que tem causado maior exaltação e confusão nos cidadãos. Essa alteração está
relacionada com a eliminação das, chamadas, consoantes mudas, que acabam por
agredir o étimo da palavra, criando contradições a palavras derivadas: “Penso também que devíamos corrigir ou
prestar atenção, à nossa própria oralidade do português de Portugal, ou então
qualquer dia, ninguém nos entende. Nós temos uma tendência, dizemos “tevisão” “tefone”,
e qualquer dia também há um AO em que em televisão cai o «le»”.
José Ribeiro e
Castro, não é totalmente contra o AO, mas sim, a favor duma revisão do mesmo, pois considera-o uma realidade indispensável: “se
nós presamos a língua portuguesa como uma língua global, como uma língua que
não é só nossa, como diz Adriano Moreira: ‘A língua é nossa, mas não é só nossa’, temos que aceitar que os brasileiros, os angolanos, os moçambicanos, os
cabo-verdianos, e por aí fora, não são apenas clientes da língua mas também são
donos dela”.
Cláudia Évora e Sofia Conde
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